No próximo dia 03 de novembro os americanos escolherão seu próximo presidente. O pleito acontece entre o atual candidato à reeleição pelo Partido Republicano, Donald Trump, e o representante democrata e ex vice-presidente na gestão Obama, Joe Biden.
O resultado das eleições presidenciais no país que é a maior economia do mundo, naturalmente, repercute em todo o planeta. No Brasil, que tem nos Estados Unidos um de seus principais parceiros comerciais, não seria diferente. A vitória de um ou outro candidato nos faz pensar em diferentes cenários para política externa, economia, acordos comerciais e afins.
Pensando nisso, preparamos este artigo com um breve panorama com previsões sobre como o resultado das eleições presidenciais americanas de 2020 poderão afetar o Brasil em diferentes dimensões. Acompanhe.
Política externa
O ex-chanceler brasileiro, Celso Amorim, em entrevista veiculada na Folha de S. Paulo, quando questionado sobre como a linha de política externa americana pode oscilar em relação a Americana Latina e o Brasil, respondeu fazendo a seguinte analogia:
“A política externa americana sempre enxergou a América Latina como um quintal, independentemente de qual liderança ocupe a Casa Branca. E com um quintal, você pode ter diferentes tipos de tratamento. Nesse espaço, você pode mandar e desmandar, tentando organizar tudo da forma que deseja, retirando dali recursos de forma predatória. Por outro lado, você também pode cuidar desse espaço, mantendo horta ou pomar, retirando de lá o que eventualmente precisa de uma forma não-predatória. Mas, no fim das contas, seja qual for a relação, o quintal é sempre seu”.
A fala de Amorim expressa o tipo de hegemonismo que a Casa Branca tenta exercer em relação a América Latina. Dado os recursos que as duas nações dispõem para fazer valer seus interesses em uma mesa de negociações, é um tanto natural que seja assim.
Na atual conjuntura, por exemplo, o Brasil apresenta uma espécie de alinhamento automático aos interesses americanos, mesmo sem receber contrapartidas razoáveis para isso. Depois de privilegiar os americanos na exportação de uma série de commodities e apoia-los em questões regionais relevantes, como no enfrentamento a Venezuela, nos foi prometida uma recomendação para ingresso na OCDE, o que ainda não aconteceu. Além disso, o Brasil aumentou a importação de trigo e etanol do país e aceitou restrições na exportação de chapas de aço brasileira pelos americanos.
Em uma eventual mudança de comando na Casa Branca, com a vitória de Joe Biden, alguns analistas indicam uma tentativa de aproximação para com o Brasil, já que hoje o presidente Bolsonaro mantém uma relação de extrema proximidade para com Donald Trump. Esse seria um movimento estratégico para não permitir que os chineses avancem sobre a região, minando a influência dos americanos.
Meio ambiente
Organizações multilaterais, como a ONU e a OCDE, além de observatórios internacionais ligados ao meio-ambiente, acompanham com preocupação as queimadas na Amazônia e no Pantanal – bioma 20% devastado entre Setembro e Outubro deste ano. No cenário internacional, o Itamaraty alega que a situação está sob controle, posição que é endossada pelo presidente americano Donald Trump.
Em uma eventual eleição de Joe Biden, não podemos esperar a mesma postura notável em relação a questão ambiental. Lideranças do Partido Democrata no congresso americano já pressionam o Brasil por um melhor gerenciamento da crise, fazendo coro às organizações internacionais.
Lideranças da União Europeia já prometem um pacote de sanções econômicas, caso as queimadas e o desmatamento não sejam controlados. A principal delas seria o impedimento da concretização do acordo de livre comércio entre o bloco europeu e o Mercosul.
Segundo o Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o desmatamento na Amazônia Legal, que engloba a região Norte mais parte do Maranhão e Mato Grosso, caiu de 27,8 mil km² em 2004 para o menor resultado histórico em 2012 (4.600 km²). Nos anos que se seguiram, tivemos aumento no registro de queimadas em todos anos, com destaque para o mês de agosto de 2020, que registrou o maior número de focos de queimadas de toda a série histórica iniciada no ano de 1998.
Economia
A China é o principal parceiro comercial do Brasil desde o ano de 2009. Desde então, nosso comércio bilateral com os Estados Unidos caiu consideravelmente.
Com a eleição de Jair Bolsonaro, tivemos uma reaproximação considerável junto aos americanos, o que também se refletiu em nossa balança comercial. Nas últimas semanas, inclusive, vem sendo anunciado um mini acordo de livre comércio entre os dois países que, entre outras disposições, prevê a abolição de algumas barreiras não-tarifárias no comércio bilateral a partir da simplificação ou extinção de procedimentos burocráticos, conhecida no jargão empresarial como facilitação de comércio.
Representantes do setor produtivo avaliam da seguinte forma a celebração do acordo:
“O acordo é muito importante porque, se Trump vencer, já retomamos as negociações de um ponto mais avançado. Se Biden vencer, temos um patamar mínimo estabelecido para seguir. Os americanos são pragmáticos e reconhecem a importância das relações comerciais com o Brasil”, Abrão Árabe Neto, vice-presidente-executivo da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil).
O acordo, de fato, é promissor e pode representar a consolidação da parceria já estabelecida entre os dois países. No entanto, independentemente de qual presidente seja eleito e de sua disposição para chancelar o tratado, muitas etapas ainda precisam ser cumpridas, como a aprovação no Congresso Nacional e no legislativo americano.